sexta-feira, março 09, 2007

Prosa

Pequenos Porquês

O que é isto?... O que é isto que não sei porque nem como é?... Porque não diz nada?... Porque não diz nada... Porquê?... Que coisa é essa que não sabe que é, que sabe sem conhecer porque procuro saber dela meu ser? Porque sabe ela o que tão-pouco julga conhecer, de mim, deste sofrer e da alegria desalegre de morrer?... Quem a pariu?... De que canto do mundo emerge essa vida que tudo de todas sabe, no antes e no acto, no futuro que a cauda do passado toca sem que lhe mesmo toque como eu queria? Queria? Assim o podia ter feito naquele acto que foi futuro antes de passado passar a ser, queria?... Que vida és, tu que todas as coisas perpassas sem ferires o que é por natureza ferido, na razão de não sentir que o libertam do jugo de ser livre, de em ninguém nunca poder delegar a razão do que se é? Que liberdade me dás se toda a que tenho é a leviandade de julgar que decido de mim quando afinal me decidem essas coisas que delas nada decidem, que, delas, nada decidem, que, por sua vez, delas nada decidem, que, por fim (ou início?) elas mesmas, são uma decisão? Cais-me aos pés húmida e provocadoramente ao ritmo do meu questionar-te. Respondes-me com véus, dás-me um estranho ser com a máscara das subjugadas coisas do mundo, não me dás o que não posso nomear pela razão de não mo teres dado. Porque agora me é dado tão pouco, se tanto antes recebi e se menos me faria mais não ter querido, por mais que este menos não ter conhecido?... Porquê?... Porque o digo desejando não o poder fazer? Porque olho e movo uma energia que não quero mover, mesmo que só do meu querer, do meu escrever dependa? Porquê?...

André Faia