quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Poesia

A voz de dois homens encostados ao vago resplendor do abismo

Agora
Todos os dias tentamos iludir a morte,
Marcar o nosso próprio reflexo,
O teu
O meu
Compasso cingido ao instante de Deus
(Não existe o Outro dia).

Deus o ourives do tempo
Pelos seu dedos correm as linhas
Perpétuas do infinito
E do outrora jamais reescrito
No virar dos gestos
Ou na sombra de pensamentos e palavras.

Não existe outro dia,
Somente
este
Delírio de não acabar.

Violamos a vida para escapar à morte
Cruzamos o desejo e retomamos o cigarro,
A ponte cálida por entre os dedos
Por entre a esfinge do movimento.
Salvé irmão — orador da Utopia
Deleita-nos com a tua poesia.




A certeza ou a polifonia da minha querida vida
Cala.
Nada paira a Ocidente desta minha loucura
Fosse eu antes um cadáver apodrecendo
Na companhia de uma guilhotina.

Se eu soubesse o que era a morte
Juro
Ter-te-ia matado há muito.

As palavras passam pelo crivo do pensamento
Tal como eu me aniquilo
Nas noites longas de plenilúnio.

Arranco os estandartes das fogueiras,
Irmãs de vaidade,
Lugar onde pernoitam os corruptos
De ventre roxo
Expostos à minha ira bestial.

Serás um deles certamente.
Tempo fere-me na memória dos compromissos que declinei.

O homem permanece onde fica,
O homem já não vai onde queria
Os seus vestígios desaparecem para ele, com ele.

Deus ex-machina
Salvé
Os instantes polimétricos
Onde o corpo se extingue
Na mira de um caleidoscópio

E na incerteza de hoje, ontem ou amanhã —
Pereces.


Filipe Monval