Poesia II
O LIVRO SEGUNDO DE JUDITE
Se a palavra mata, Judite,
Eu aqui não exorto a tua imagem
Encontrei há tempos uma mensagem
Que me enrubesceu e deixou triste
É que juro, não sou quem disse
As desolações da minha pobre carta
Antes morto, antes visse
Mefistófeles e o raio que o parta
Nem os versos rimam
Nem o coração se alegra
Diante da frouxa feição que de mim tracei
Não sou a rota e ébria criatura que esbocei
Ante o ciúme louco e a paixão cega
Poeta já fui, passado, antiquário
De promessas vãs e falsos perdões
Pudera um pobre escriturário
Apresentar as suas razões
Já acendi velinhas à Senhora
Mas não sei se a prece adita
Que entre rogos e comparações
Lhe disse que eras a mais bonita
E nos serões de Inverno, só,
Lembro sempre minha fraqueza
Escrevo cartas que não envio
E, num relance, parto a braguesa
Mas eis que bebo do cálice
Dois golos de Porto branco
E logo se me ergue num ápice
A graça de ser franco
Judite, meretrizes já muitas o diabo viu
Mas nenhuma como tu e a puta que te pariu
Leonel Ferreira
Se a palavra mata, Judite,
Eu aqui não exorto a tua imagem
Encontrei há tempos uma mensagem
Que me enrubesceu e deixou triste
É que juro, não sou quem disse
As desolações da minha pobre carta
Antes morto, antes visse
Mefistófeles e o raio que o parta
Nem os versos rimam
Nem o coração se alegra
Diante da frouxa feição que de mim tracei
Não sou a rota e ébria criatura que esbocei
Ante o ciúme louco e a paixão cega
Poeta já fui, passado, antiquário
De promessas vãs e falsos perdões
Pudera um pobre escriturário
Apresentar as suas razões
Já acendi velinhas à Senhora
Mas não sei se a prece adita
Que entre rogos e comparações
Lhe disse que eras a mais bonita
E nos serões de Inverno, só,
Lembro sempre minha fraqueza
Escrevo cartas que não envio
E, num relance, parto a braguesa
Mas eis que bebo do cálice
Dois golos de Porto branco
E logo se me ergue num ápice
A graça de ser franco
Judite, meretrizes já muitas o diabo viu
Mas nenhuma como tu e a puta que te pariu
Leonel Ferreira
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