domingo, junho 10, 2007

Poesia II

O LIVRO SEGUNDO DE JUDITE


Se a palavra mata, Judite,

Eu aqui não exorto a tua imagem

Encontrei há tempos uma mensagem

Que me enrubesceu e deixou triste


É que juro, não sou quem disse

As desolações da minha pobre carta

Antes morto, antes visse

Mefistófeles e o raio que o parta


Nem os versos rimam

Nem o coração se alegra

Diante da frouxa feição que de mim tracei

Não sou a rota e ébria criatura que esbocei

Ante o ciúme louco e a paixão cega


Poeta já fui, passado, antiquário

De promessas vãs e falsos perdões

Pudera um pobre escriturário

Apresentar as suas razões


Já acendi velinhas à Senhora

Mas não sei se a prece adita

Que entre rogos e comparações

Lhe disse que eras a mais bonita


E nos serões de Inverno, só,

Lembro sempre minha fraqueza

Escrevo cartas que não envio

E, num relance, parto a braguesa


Mas eis que bebo do cálice

Dois golos de Porto branco

E logo se me ergue num ápice

A graça de ser franco


Judite, meretrizes já muitas o diabo viu

Mas nenhuma como tu e a puta que te pariu


Leonel Ferreira