segunda-feira, maio 07, 2007

Prosa


Trágico é o seu devir. Trágico…
O devir de não ser o que se quer, de ser a ininterrupta condição sem solo. Sem!...Solo!... Sem raiz.
Sem chão.
Sem um chão! que lhe parta a sua incondicionada condição. O devir que a percorre é uma tragédia, nada a faz crer que sim, que sim verdade essa feia e triste!, nem que não por simplesmente isso não ver, nada a faz crer no que quer que seja que diante dos seus olhos não esteja. Olhos… Mas olhos que os mesmos sejam no contacto e na finalidade da visão não são olhos, são ver sem perspectiva, sem planos ou perfis, nem pálpebras sempre obstrutivas. São olhos e ouvidos, e toques sem sentidos porque todos os sentidos neles existem, nessas coisas que aqui chamei de olhos. Querer ver deste canto espreitando e não poder, ou pior, não poder nunca querer tal coisa por nada lhe ser permitido desejar é trágico… Ela não acha, nem conseguiria porque simplesmente de si não brotam volições, mas isto é trágico.
Sim, tudo isto é aflitivamente trágico!...
Não ter pontas, esquinas, limites. Não ter nada disso e ser em acto o devir, o eterno retorno a tudo aquilo que se foi, sem se ter sido nada de distinto do que se é ou vai ser. Vir a ser tudo o que foi ou nunca ser no futuro o que no passado não foi. Passado? Futuro? Conjugar tal verbo em tão dilacerante contexto é devaneio.
Não há pontas, esquinas, limites…
Não há qualquer ponto diferenciável dos outros. Se esses não existem não há aqui, ali, agora, antes ou depois, não há tempo, há devir sem tempo. Um devir, por natureza, sem tempo. Isto, raios o partam, é trágico.
Sim, tudo isto é aflitivamente trágico!...
Viver - sem existir - num perpétuo compasso marcado ao ritmo do não-tempo, do eterno, não um eterno positivo, mas um eterno carregado de perpetuidade ainda que não factual. Ser por condição incondicionada um passo em frente e em concomitância um passo atrás.
Ser todas as direcções sem se dirigir para sítio algum!,
Caminhar em todos os sentidos sem sair do sítio!,
Estar sempre no mesmo ponto sem imobilizar!,
Sem alguma vez parar, sem… avançar.

Que trágica ideia és tu!
André Faia