segunda-feira, maio 07, 2007

Poesia

meiopoema


o que minto é o que sinto
e o que tento e o sustento
de quem mente é o que atenta
ao assentar.

um poema devagar
que mova o morder do prensar
e o pensar em dispersar
o pensar e arredores
do que tem e não lugar

o meu intento é esperar.


Ruy




heterógrafo

vê só onde o amor nos deixou; é Natal e estamos nisto:
não tenho sido eu própria

] - isto de não ter memória foi
onde a memória nos deixou - [

estamos à porta um do outro, encerramos as despedidas
e as portas que executámos só se acertam de manhã

] – errar, o cálculo, e o separar,
quando onde erramos cem olhar – [

havemos as cartas marcadas, os parceiros enganados
essas moradas por achar, e [escuta],
todos acreditamos nisso, e cem acreditar.


Ruy




cadáver é esquisito
que nos amemos
e nem nos vemos
pelo menos, nem o cremos
nem a mais pelo caminhar
cuja marcha se entontece
e no bolso, acontece, o coração

e ia jurar que te ouvi
hoje
- que respiravas devagar-
neste vago espaço
que alguém pôs no teu lugar

e, depois, talvez não hoje
amanhã me decido a ponderar
nessa morte se suspeitava
que ao lado bocejava
como um gato a uma perna
o enrolar da eternidade

e é sempre esquisito
não deixa sempre de o ser
que hoje o sol o vi nascer
e que o cria eu ainda
já que fosse coisa finda

- lavo os cestos, erro pelas contas
vindimo a solidão -
e desconto ingratos no que conto
os algarismos gastos da pulsação.

Ruy