Poesia I
ODE SINUSOIDAL
Latente contracção de esponjas amarelecidas
Pelo vento, pelo tempo, pelo sustento
Que me lambe as feridas das mãos
Que eu fiz ao saltar os muros com arame farpado
Do sonho de ser mais alto.
Mórbidas insolações de Inverno em dias de chuva
Arrastam carrascas lembranças do futuro
Que nunca tive nem nunca hei-de saber.
Inútil! És um inútil, sonho!
Serves só para não servir para nada!
Banhas com banhas de cobra as cobras que não se banham!
E não passas de um inútil…
Deita-te ao ar de almofadas em punho
A ver se alguma dispara na direcção errada
De voltar para trás indo seja lá para onde for
Sim, seja lá para onde for,
Que ir para qualquer lado
É sempre ir na direcção errada.
Bandeiras olfactivas de peixe podre
E odorizantes matinais perenes
É disso que se queixa a multidão amordaçada?
Soubesse a multidão que é multidão sequer!
E já não se queixavam de mais nada…
Vai-te embora daqui para fora
Ou fica lá longe do outro lado de ti…
Cortei-me outra vez pela primeira vez
Isto está sempre a acontecer
E já nem sei que bolso hei-de usar para pôr lá dentro
Os dentes partidos que me vão cair
Quando me esmurrarem amanhã de manhã
Ou de madrugada
Ou de noite
Ou de comboio
Ou de bicicleta
Desde que não seja com borboletas da Antártida.
É sempre assim que o mundo se diverte
Atira caixas contra a parede do riso
E espera que os vampiros da saudade
Se vão refastelar a seguir
Completamente imundos e a pingar sangue pelas narinas.
Já percebi…
Estou doido…
Não faz mal, assim também não tenho
De estar sempre à espera que me deixem atravessar
A estrada
Fecho os olhos e a estrada já não existe
Assim, já não tenho de a atravessar.
De resto, podia ser pior…
Se ao menos o sonho não fosse um inútil…
Eu não teria de estar preso nas suas malhas!
João Tavares
Latente contracção de esponjas amarelecidas
Pelo vento, pelo tempo, pelo sustento
Que me lambe as feridas das mãos
Que eu fiz ao saltar os muros com arame farpado
Do sonho de ser mais alto.
Mórbidas insolações de Inverno em dias de chuva
Arrastam carrascas lembranças do futuro
Que nunca tive nem nunca hei-de saber.
Inútil! És um inútil, sonho!
Serves só para não servir para nada!
Banhas com banhas de cobra as cobras que não se banham!
E não passas de um inútil…
Deita-te ao ar de almofadas em punho
A ver se alguma dispara na direcção errada
De voltar para trás indo seja lá para onde for
Sim, seja lá para onde for,
Que ir para qualquer lado
É sempre ir na direcção errada.
Bandeiras olfactivas de peixe podre
E odorizantes matinais perenes
É disso que se queixa a multidão amordaçada?
Soubesse a multidão que é multidão sequer!
E já não se queixavam de mais nada…
Vai-te embora daqui para fora
Ou fica lá longe do outro lado de ti…
Cortei-me outra vez pela primeira vez
Isto está sempre a acontecer
E já nem sei que bolso hei-de usar para pôr lá dentro
Os dentes partidos que me vão cair
Quando me esmurrarem amanhã de manhã
Ou de madrugada
Ou de noite
Ou de comboio
Ou de bicicleta
Desde que não seja com borboletas da Antártida.
É sempre assim que o mundo se diverte
Atira caixas contra a parede do riso
E espera que os vampiros da saudade
Se vão refastelar a seguir
Completamente imundos e a pingar sangue pelas narinas.
Já percebi…
Estou doido…
Não faz mal, assim também não tenho
De estar sempre à espera que me deixem atravessar
A estrada
Fecho os olhos e a estrada já não existe
Assim, já não tenho de a atravessar.
De resto, podia ser pior…
Se ao menos o sonho não fosse um inútil…
Eu não teria de estar preso nas suas malhas!
João Tavares
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