domingo, janeiro 07, 2007

Um pequeno texto

Morte, prematura Morte.

Vi a morte esboçada no parapeito da janela. Sentei-me um pouco, ao de leve na cama, desconfortável, talvez, com a improvável esperança que a sombra das paredes do quarto me resguardassem da luz. Virei o rosto, impelindo o olhar a atravessar o chamamento do reflexo que cobria o espelho. Lamentei a ausência da alma em mim, dos sentidos que escorriam, preguiçosamente, no meu pensamento. Rebusquei, então, as palavras, as ideias, os sons, os tons certos com os quais prestar atenção. Tu, imóvel, limitavas-te a examinar os meus gestos.
Caminhei sobre o manto desprendido pela morte. Apenas pressentia a sua sombra, um pouco mais adiante. Ali, ali mesmo no canto. Sente-la? Dos teus lábios fendidos notei um leve rumor de medo. Silenciosa, pálida, sequestravas o pêndulo das horas inadiáveis. Aproximei-me. O gelo tinha-se apoderado do teu corpo. Estremeci. Tentei acalmar a tua face, em lágrimas. Mas a angústia tinha já nidificado no teu jovem retrato. Esperei sentado a teu lado, até que o esquecimento se recompusesse. Eminentemente sós, abandonados à ignorância de que o fim nos espiava dissimuladamente. De repente, um vulto balanceou do nada sobre nós e apartou-me de ti para sempre.


Reis Neutel