domingo, janeiro 07, 2007

Poesia

( poema de um embarcadiço a uma ilha de azul flutuante )))))

que império este tão raro
mundo império que olhar meu contempla.
me goteja do ser toda ilusão
e nascem espinhos – no chão – de sua criação.
Vibram sonoras, canoras,
trombetas de instante final
e o que senti - tudo aquilo -
se me despiu perante um níveo isto,
singelo de perene emoção.
e a ti me dou, em ti me encontro
meu viver foi esperar por ti –
- só aqui, apenas assim,
de ti arde meu coração

Rui Gonçalves Miranda


] ] acho da morte uma surpresa infantil / como de ser nos estranha o respirar –

. coração estrangeiro / coração de brincar [ [


E num instante contínuo
meu corpo já não o é
- estas mãos, estrangeiras,
olham, absortas e fundas,
do que sob o transparente
emerge sem o fitar.
falo. meu coração tem o nome
de águas que morrem,
e o que era sangue partiu já,
de sobre para nenhum lugar.


Rui Gonçalves Miranda


irmãos são os cães da estrada / que se alimentam do que acontece - irmãos são os vãos de escada / porque suportar é esconder - irmãos não são pr’ aqui chamados / irmãos só no morrer.


Rui Gonçalves Miranda



queixas a um bárbaro escravo


Porque vi que te amava por fim
sei já que amar não é para mim
e que amar só pode ser - como assim -
de maneira singular amar-te a mim
Porque de mim sei no amor e pela dor,
o que dado é ao provido amado;
sei o ter no amante um só criado
pelo esforço grande de o criar.
Amar-te não preciso porque o amor to dou.
mas amar só a mim me amo,
- de amar-te estou abdicado -
Porque o que ama saindo de si
p’ra casa volta desalojado.


Rui Gonçalves Miranda



romanceiro

O amor não sabe o que fazer
coloca as mãos nos bolsos e finge não saber por quê
Assobia devagar,
e um piano morre lento o seu tocar
e o amor crê-se enfim vibração infantil
dessa morte tão sempre igual
e o amor invade a janela e recolhe o mundo
(os joelhos suportam o seu olhar)
O amor sussurra um encolher
e o amor adormece devagar
O amor finge não procurar_o amor finge não acordar_o amor não sabe o que fazer
O amor retira as mãos dos bolsos
sem moedas para a solidão
e o amor, que está cansado,
encosta-se por um pouco
no peitoril da imensidão
e o amor não tem pousio
barbeia-se num pautado trautear
O amor não tem idade
mas a amar morre devagar
O amor esquece o antigo
quer ser novo e multiplicar-se
quer-se menino e, de soslaio,
cria um manjerico no seu gotejar
e de rimas e cantigas
nos bolsos cria um cantar
Um que lhe finja a mentira
outra a que o entoe pelo ar
E das asas, onde as pôs
do corpo desiste devagar
e engole-se na solidão
em dedos que tacteiam pelo ar

Rui Gonçalves Miranda