domingo, junho 10, 2007

EDITOR 8IT0

“The man who writes about himself and his own time is the only man who writes about all people and all time.”

George Bernard Shaw (1856 - 1950)


Será o escritor uma espécie de predestinado, de um super-homem?
A marcha do tempo é inevitável. O mundo cambia em menos de nada. Somos vigiados pelas câmaras escuras dos nossos governos. Acabou-se há muito a privacidade. Sim, ou talvez não. Num exíguo sótão, o autor desafia o exterior, debate-se com os labirínticos contornos dos seus pensamentos, entorna tinta sobre eles, manipula-os até lhe dar a cor certa. Palavras são pensamentos prévios, sem pensamentos nunca o terem deixado de ser.
Mas tudo parece resvalar na inércia do mundo de olhares vagos. E ele, o centro do mundo, que bem conhece, o farol de turbilhões de pensamentos — pensa se valerá mesmo a pena escrevinhar signos por signos.
O acto de escrita surge da necessidade de uma auto - comiseração do ser-autor. A escrita funde-se nos recônditos dos seus desejos e aversões. Medita com a palma da razão. Porém, o silêncio dá lugar à dor. O peso do mundo abate-se sobre ele. Não há lugar ao regresso a casa, pois não há casa que o acolha mais. Resta-lhe um caminho. Continuar. Ele será a chave da nova criação. Deve, então, continuar, apesar da dor e do cansaço. Só assim, a obra nascerá e com ela a terapia no seu consolo.

Reis Neutel