sábado, outubro 07, 2006

poemas

Três vezes de volta do coração
(volta em volta)
Acabou o verão, e meu coração é um incêndio
Luz fugitiva no matizar do instante
Paisagem brusca de sentidos

Acabou o verão, e meu coração é um inferno
Na alma o cálido gotejar do tempo
Invenção de repouso invicta

Acabou o verão, e meu coração não mais que um conto
Apaga as distâncias da distância
Com o desenleio dos sorrisos

Acabou-se o coração, nunca mais noites de veludo
Nem o sopro morno do amor
Nos deixarão despidos

Só não acaba este acabar, instintivo lampejar
Amante das dores do amar
Inquieto desejar
Rui Gonçalves Miranda

Porque o coração, mas quem o disse, é um abismo,

não sou senão o ser que não há

jamais

influxo pulsar na estrada de sangue da alma

meu coração, de carne, orgânico,

prazer instinto inquieto fatal




Porque o coração humano, alguém o disse,

o humano em coração é um abismo

a mais

volve e revolve e envolve e dissolve

meu coração uma mentira de facto

um bater sem de ter qualquer sinal




Abismo de carne e nervo e sangue e calma

papagaio de dor novelo ao vento

horizonte sem linha descaído



Rui Gonçalves Miranda

Amar é escusado que amar-te não sei
Porque não és senão amor
E eu amar amor não sei
Porque és o que sinto e canto
E respiro na paz calma
Do Verão de que Apolo parte
Amar o que sou não sei
Porque não sou senão
De ti o amor
Amar-te amor não sei
Porque o amor não é amar
Amar-nos amor não sei
Porque amar é só gostar
E não sendo nós senão amor
Porquê amor amar


Rui Gonçalves Miranda